TORTURE SQUAD - ESQUADRÃO DE TORTURA
Eu
sempre fui amante da História. Não só as histórias de ficção (outrora
denominadas “estórias”, agora vocábulo em desuso), mas também dos fatos do
passado da humanidade que levou-nos ao mundo que temos hoje. História é matéria
na escola não por acaso. Estudar e pesquisar o passado de uma nação, de um ser,
de uma causa e dos meios para um fim é um trabalho árduo, mas deveria ser feito
por todos. Foi ainda na escola que me apaixonei pela História. Primeiro, a
Segunda Grande Guerra, onde todas as informações que eu obtinha sobre o assunto
não pareciam suficientes. Então descobri as bandas de heavy metal que davam
enorme ênfase a letras sobre o tema ou simplesmente menções a outros fatores
históricos. Se você acha que Iron Maiden é a única banda a fazer isso, está
redondamente enganado.
Quando
o assunto era a história de meu país, sempre gostei de pesquisar o Regime
Militar e a época da Ditadura Brasileira (1964 a 1985), primeiramente por não
ter vivido esta época e segundo, mas não menos importante, por um dia achar que
o tema daria uma bela canção de thrash ou death metal. Inimigos de Estado,
sanções, banimentos, resistências ao poder e... torturas a presos políticos!
Aquilo era incrível para minha cabeça de 15-16 anos. Felizmente, outra banda
brasileira nos presenteou com a mesma concepção que eu tive. Mas aqui, um álbum
completo, lançado em uma data muito conveniente à ideologia: 15 de
novembro. Esquadrão de Tortura é uma viagem no tempo ao período do Regime
Militar brasileiro. Constituído de forma conceitual, primeiro trabalho desta
categoria do Torture Squad, no decorrer das 12 faixas a banda mostra de ordem
cronológica um dos períodos mais obscuros da história do Brasil. O álbum
passeia pelo primeiro golpe de estado indo até as revoluções, sem deixar de lado
estrelas e as lembranças mais marcantes deste período. A banda abre seus
trabalhos sem rodeios ou entoações. “No Escape from Hell” é rápida e mostra bem
a pegada thrash que a banda quer contar ao seu ouvinte sobre a história do
Brasil. Ótima canção e o instrumental já acena ao ouvinte o que ele poderá
esperar pelo resto do álbum.
Impossível não lembrar os trabalhos recentes
do Sodom. Desde 2012 a banda conta com os vocais de André Evaristo (guitarra) e
Castor (baixo), já que o posto antes ocupado por Vitor Rodrigues fora deixado
de lado. Uma boa estratégia de a banda dividir os vocais entre seus membros,
sem a necessidade de contratar um novo vocalista. Temos aqui um “thrash trio”
de competência (mais lembranças ao Sodom) e os vocais de André em boa parte do
álbum assemelham-se aos de Mille Petrozza, do Kreator. Uma ótima constituição
vocal!. O passeio ao passado brasileiro continua com a puxada do gatilho
do exército e a tomada do poder com “Pull the trigger” e as primeiras
resistências com “Pátria Livre”, esta a única canção do álbum cantada
inteiramente em português. Haveria espaço para mais faixas em nossa língua
nacional.
A
sequencia do álbum é pedrada após pedrada, lembranças claras ao thrash metal
alemão e ao chamado “war metal”, popular nos idos dos anos 80 por aqui.
“Wardance” é o ponto técnico do álbum, onde a banda mostra sua evolução
elevada. E que composição linda! “Architecture of Pain” e sua introdução levam
o ouvinte de volta à década de sessenta, ouvindo as notícias do rádio sobre a
criação do primeiro Ato Institucional. Ouvidos desatentos – ou em desacordo com
o estilo – poderiam dizer que a banda soa repetida da quinta faixa adiante, mas
as letras carregadas da história do Brasil valem o registro do álbum. “Never
Surrender”, sexta faixa do álbum, tem momentos maravilhosos de interlúdios em
que André grita o nome (ou as siglas) das primeiras agremiações partidárias
opostas à Aliança Renovadora Nacional (ARENA).
Vejam
quantos dos partidos políticos que conhecemos hoje eram chamados no passado! Pedradas
e a progressão da ditadura militar seguem por “In the Slaughterhouse” (técnica
tremenda da velha cozinha da banda, presença forte do baterista Amilcar
Christófaro), “Conspiracy of Silence” e “Nothing to Declare”. Mas um álbum
conceitual cravado sobre um fato histórico tem um final que é previsto por
todos. Um final onde já sabemos o que acontece em seu desfecho. Com Esquadrão
de Tortura não é diferente. “Fear to the World” e a faixa bônus “A Soul in
Hell” terminam, ainda que de forma morna, a história já conhecida do ouvinte.
Não há floreios ou uma enorme mensagem filosófica sobre o passado brasileiro ao
término do álbum, mas mesmo assim, a banda mostra que, após este período
conturbado do Brasil, o que se levantou foi uma Democracia um tanto quanto falha.
Há uma curiosa ligação, evidenciando isso, com a última faixa e a primeira
canção. Como se o álbum pedisse para você ouvi-lo de novo ao término de “A Soul
in Hell” e repetindo seu ciclo com “No Escape from Hell”. Um círculo vicioso
que tenta dizer o que se passou antes, também acontece agora.
De
menções aos Atos Institucionais, passando por exclamações de liberdade até
culminar no fechamento do livro negro da História do Brasil, Esquadrão de
Tortura não irá te ajudar a passar de ano na escola (obrigado Iron Maiden! Mas
isso fica para outra resenha...). Entretanto, é impossível negar a boa carga
histórica presente neste primeiro registro conceitual do agora “Power trio”
paulistano. A banda fez uma excelente pesquisa sobre a época, um trabalho que
poucos teriam tanto esmero.
Obviamente
o álbum é recomendado a você também que não dá a mínima para o passado de seu
país. O que você ouvirá aqui é um competente trabalho produzido inteiramente no
Brasil e que não nega fogo aos grandes da Europa ou América do Norte. Mas se
você acha válida a ação da banda em recontar o Regime Militar Brasileiro,
adquira o álbum original. O encarte já vale por metade do preço imposto.
Afinal de contas, quem não sabe seu passado não pode reclamar de seu presente.
Formação:
Amilcar Christófaro -
Bateria
André Evaristo -
Guitarra/Vocal
Castor - Baixo
Contato:
Mais Informações:
Resenha: Guilherme Thielen
Colaboração:
True Rockers Club
https://www.facebook.com/truerockerscluboficial
Colaboração:
True Rockers Club
https://www.facebook.com/truerockerscluboficial
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