METALLICA - MASTER OF PUPPETS
MASTER OF PUPPETS – UM CLÁSSICO DO METAL.
Decorria a década de 80. Era
uma época em que se tentava (re)definir um conceito musical, desviante, furioso
e agressivo, descendente direto da New Wave of British Heavy Metal
(NWOBHM), onde bandas como os Iron Maiden, Motörhead, Saxon, Tank, Diamond
Head, Judas Priest, entre muitos, contestavam a prolífera cena Punk nos
dois lados do Atlântico.
O punk, nascido em meados da
década de 1970, carregava no seu fundamento uma reação a uma cultura e produção
musical por vezes demasiado polida, homogénea de massas, de categorias conceituais
e ao mesmo tempo dotado de uma carga psicodélica, que era considerado um novo
normal, popular.
Assim, através de bandas com
enorme atitude, eram também, por vezes, classificadas com a notória inabilidade
em tocar o seu próprio instrumento. Contudo, representavam a fúria da geração
da altura, numa clara reação à rebeldia ao que eram as playlists das
rádios e às preferências das editoras discográficas da altura. O Metallica,
contudo, nasceu com uma paixão pelo movimento NWOBHM, mas com vontade de
fazer algo diferente. Aliaram a atitude punk a uma perícia instrumental invejável
na altura.
O primeiro álbum “Kill ‘Em
All” fez de fato uma verdadeira revolução, com a velocidade das composições e
um talento em canalizar a destrutiva fúria adolescente num novo conceito
musical, o thrash metal. Foi muito natural a ascensão da banda a um
estatuto de modelo a seguir, quer pelo seu trabalho, quer pelo talento, quer
pela sua originalidade.
O segundo álbum “Ride the
Lightning”, trouxe uma clara evolução do conceito original, e também o cimentar
de uma fórmula que iria ser seguida nos próximos 3 álbuns até o início da
década de 1990. Canções rápidas, impregnadas de melodias e arranjos complexos,
vizinhas de outras canções melancólicas, capazes de arrancar para refrãos
cantados por multidões.
O
nascimento de uma obra-prima do metal.
Chegado ao terceiro álbum,
em 1985, as duas grandes forças criativas do Metallica, o baterista Lars
Ulrich e o vocalista e guitarrista James Hetfield, juntaram-se
durante semanas numa casa, cuja garagem foi transformada num laboratório de
ideias. Rodeados de uma forte ambição e riffs soltos, trabalharam
exaustivamente até chegarem a um consenso sobre como cada canção deveria soar.
Só depois de estabelecida a
estrutura, escreverem a letra e títulos respetivos, chamaram os outros dois
elementos da banda, o baixista Cliff Burton e o guitarrista Kirk
Hammett. Ambos trouxeram mais que os seus esperados atributos musicais, e
construíram, indiscutivelmente, o melhor álbum da banda, e também um dos
melhores álbuns do género. Com a maioria dos temas completos, era necessário
proceder à gravação. Dotados de uma experiência que antes não possuíam, por
razões de captação acústica escolheram gravar o álbum em Copenhaga,
na Dinamarca, país natal de Lars Ulrich.
Apesar do abuso de álcool
que lhes era invariavelmente reconhecido, todos os membros da banda
mantiveram-se autocontrolados em toda a fase de gravação e produção, empenhadas
pelo objetivo de gravar um bom álbum. Sem saber, acabaram por concluir uma
das maiores obras do metal em geral.
“Master of Puppets”
apresenta-nos uma banda admiravelmente amadurecida, apesar da tenra idade dos
seus elementos. Ao mesmo tempo ávida e convicta do poder que os novos temas
transmitiam a diversos níveis.
Com a mesma técnica, fúria,
a reconhecida velocidade e a melancolia dos temas mais negros do álbum
anterior, mas agora elevados a um patamar superior, onde a temática ora
política e religiosa como em “Leper Messiah”, ora dependência em “Master of
Puppets”, ora bélica em “Disposable Heroes” e até mesmo a loucura em “Welcome
Home (Sanitarium)”.
“Master of Puppets” é
uma obra-prima e agrega canções que são presença obrigatória no alinhamento de
qualquer show do Metallica até os dias de hoje. Tal como nos dois
álbuns anteriores, os temas novos voltavam a confundir os seus seguidores, mas
como quase sempre, era baralhar, voltar a dar e finalmente, conquistar. Á época
do seu lançamento, em março de 1986, “Master of Puppets” recebeu críticas
efusivas de toda a imprensa musical, e era reconhecido que a banda era a
bandeira do género musical que representava.
Não só conquistaram a
crítica, que considerou que o Metallica estava no seu auge ao nível
da composição, como ao mesmo tempo enalteceu a consistência e a maturidade do
álbum. Mas a banda norte-americana sobretudo continuou e virou a página de “Ride
the Lightning”, e daí progrediu, como ao mesmo tempo consolidou os velhos fãs,
e angariou ainda mais seguidores.
Sem a edição de um single,
ou apoio nas rádios, a banda embarcou numa extensa digressão para a promoção do
álbum, iniciada em março de 1986, nos EUA, como banda de abertura de Ozzy
Osborne, a qual marcou a primeira experiência do grupo em concertos em arenas e
estádios, com um enorme número de espetadores. Até agosto desse ano, tinham cerca
de 50 minutos para a abertura da tão esperada banda principal. No entanto, os
fãs de Ozzy não saíam defraudados. Muitos se tornaram seguidores
dos Metallica, naturalmente. Esta digressão fica, contudo marcada por uma
série de acontecimentos menos felizes.
Master
of Puppets: Glória, Tragédia e Luto.
“Master of Puppets” não
assinala somente um marco feliz na história da banda. Para além de serem
obrigados a contar com um substituto para a guitarra de James Hetfield,
devido a um pulso partido envolvendo uma queda de skate, “Master of Puppets”
foi o último álbum dos Metallica em que iria participar Cliff
Burton, que veio a falecer em 26 de setembro de 1986, na sequência de um
acidente de Ônibus, em Estocolmo, na Suécia, logo no início da turnê europeia.
Ele
tinha apenas 24 anos.
Cliff Burton, como todos os
fãs de metal devem saber, trouxe uma forma singular de abordar o baixo no
contexto de uma banda rock, e trouxe também uma sensibilidade melódica às
composições de James e Lars, de forma ainda mas notória neste álbum.
Uma das canções onde Cliff
Burton deixou a sua memorável pegada foi “Orion”, uma faixa instrumental
que conta com cerca de 8 minutos de carrossel rítmico, nunca frenético, 2 solos
de baixo, um interlúdio contemplativo, e a primeira vez que James Hetfield grava
um solo num álbum do Metallica.
Esta composição carrega a
marca de Cliff, assinalada ainda hoje como tributo da banda a um elemento que
ajudou a elevá-los até ao nível em que se encontravam, e que ainda hoje é
sentido. “Orion” foi a música que tocou no seu funeral. James Hetfield tem
tatuado no braço esquerdo as notas tocadas pelo baixo que podem ser ouvidas no
meio da composição.
Após o falecimento de Cliff
Burton, a banda teve um período demasiado curto de luto (sobre o qual viriam
mais tarde a sofrer uma enorme recaída), e pouco tempo decorrido, resolve
continuar a digressão, como uma terapia à perda, contratando para o
efeito Jason Newsted, que ficaria como elemento da banda, até à sua
tempestuosa saída em 2001.
“Master of Puppets” surge
sempre destacado em muitas listas dos melhores álbuns. A revista Rolling
Stone, por exemplo, nomeou-o em 2017 como o segundo melhor álbum de metal
de todos os tempos, apenas ultrapassado pelo “Paranoid” do Black Sabbath.
Em 2016, o álbum tornou-se o
primeiro disco de metal a ser integrado no registo discográfico da Biblioteca
do Congresso dos EUA para preservação, uma honra que é concedida a todas as
obras “com uma importância significativa a nível cultural, histórico e
estético”.
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